José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e um dos líderes mais emblemáticos da esquerda latino-americana, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos, em Montevidéu. A informação foi confirmada pelo presidente Yamandú Orsi, que destacou: “Te vamos a extrañar mucho, velho querido. Obrigado por tudo que nos deu e por seu profundo amor pelo povo”.
Pepe enfrentava um câncer de esôfago desde abril de 2024. Após tentativas iniciais de tratamento, optou por não seguir com terapias mais invasivas. Sua saúde piorou nas últimas semanas, encerrando uma trajetória marcada por resistência, austeridade e compromisso com a democracia.
De guerrilheiro a presidente
Antes de se tornar presidente (2010–2015), Mujica foi um dos fundadores do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, organização guerrilheira que lutou contra a ditadura uruguaia. Preso em 1969, viveu 13 anos em cárcere — muitos deles em condições sub-humanas. Com a redemocratização, foi libertado em 1985.
Nos anos 2000, liderou o Movimento de Participação Popular (MPP), corrente majoritária do Frente Amplio. Foi deputado, senador e ministro antes de assumir a Presidência da República em 2010, eleito com forte apoio popular.
Um presidente como nenhum outro
Durante seu governo, o Uruguai aprovou leis progressistas que projetaram o país no cenário internacional, como a legalização da maconha, do aborto e o casamento igualitário. Mas foi o estilo pessoal de Mujica — austero, direto e sempre ao lado do povo — que o transformou em uma figura singular.
Morava em uma chácara simples nos arredores da capital, doava grande parte de seu salário e andava em um Fusca azul que virou símbolo de sua filosofia de vida. Com isso, foi apelidado de “o presidente mais pobre do mundo” — rótulo que rejeitava com humor, preferindo dizer que era “rico em afeto”.
A herança de Pepe
Mujica deixou a política institucional em 2020, mas nunca abandonou a militância. Participou ativamente da campanha de Yamandú Orsi em 2024, que assumiu a presidência neste ano. No cenário internacional, ganhou reconhecimento como um mediador por sua atuação no processo de paz colombiano e chegou a ser cotado ao Prêmio Nobel da Paz.
Pepe Mujica foi, mais do que um político, um símbolo de integridade em tempos de descrença. Seu legado transcende fronteiras e continua ecoando em todas as vozes que defendem justiça social, democracia e humildade no exercício do poder.
Seu rosto sereno e suas frases contundentes — como “os que vivem para ter, vivem mal” — seguem como bússola moral em tempos de turbulência. Mujica se despede, mas sua inquietude ética permanecerá entre nós.