Francisco Proner mostra impacto da tragédia ambiental de Mariana

Nesta quarta-feira, 7, até sábado, 10, em Bruxelas (Bélgica), o fotógrafo curitibano Francisco Proner, 23, abre a exposição “Mariana: A Arte da Resistência” na Galerie d’Art Montgomery. As lentes de Proner trazem o impacto às comunidades e pessoas afetadas pela tragédia ambiental mineira, provocada pela Samarco, subsidiária da Vale, em 5 de novembro de 2015. “Esse trabalho foi iniciado em junho de 2023. Desde então eu venho visitando os territórios atingidos, desde a cidade onde aconteceu o rompimento da barragem, em Bento Rodrigues, até o mar. Fiz várias visitas nos territórios que estão ao longo do Vale do Rio Doce”, disse Proner na entrevista ao jornalista Elcio Ramalho, repórter da Rádio France Internationale (RFI).

De Bruxelas, a exposição segue para Londres e Paris, em datas e lugares ainda a serem marcados. “Foi um trabalho coletivo e tem sempre muita solidariedade das pessoas que estão no terreno, que vivem e fazem parte desta história diretamente. Esse trabalho foi feito com as populações, nos quilombos, nas aldeias indígenas e nas comunidades atingidas”, acrescenta.

O desastre de Mariana marcou a vida de quase 750 mil pessoas. Os moradores do subdistrito de Bento Rodrigues e das cidades da bacia do rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, comunidades indígenas, quilombolas, ainda buscam justiça e verdade.

A exposição conta a história da devastação, mas também de solidariedade, adaptação e resiliência para superar os danos ambientais, culturais e econômicos irreversíveis causados pelo rompimento da Barragem de Fundão. Dezenove pessoas morreram e um deslizamento de terra e rejeitos tóxicos contaminaram 600 quilômetros de rios e fontes naturais de água até chegar ao Oceano Atlântico.

Primeiras audiências
O tema não era desconhecido pelo fotógrafo. Proner acompanhou de perto e registrou a tragédia de Brumadinho, em 2019. Esta experiência o aproximou do projeto envolvendo o desastre de Mariana, que ganhou nova visibilidade com o início do processo movido pelas vítimas contra as mineradoras brasileiras Vale e anglo-australiana BHP na justiça do Reino Unido.

Na semana passada, Francisco Proner acompanhou, em Londres, a realização das primeiras audiências que determinaram o cronograma para o julgamento, previsto para outubro deste ano, e que é denominado a maior ação ambiental coletiva do mundo. “Acho que é uma história importante que vai falar sobre a diferença da remediação do que já existe para o que virá, com o resultado que teremos no mês de outubro”

A exposição “Mariana: a Arte da Resistência” é inaugurada uma semana após as sessões na corte britânica e faz parte da estratégia de sensibilização da opinião pública europeia sobre as responsabilidades das mineradoras no desastre ambiental que teve repercussão muito além das fronteiras brasileiras.

“Essas empresas que provocam esse tipo de desastre, de crime ambiental e até humanitário, têm sede aqui (na Europa). Por exemplo, a BHP e a Vale tinham sede em Londres na época do desastre. É por isso que (o processo) corre na Europa. E também para entender que essas empresas têm uma imagem diferente aqui na Europa do que têm no Brasil”.

O envolvimento com as comunidades atingidas por barragens é apenas uma das vertentes do trabalho engajado do jovem fotógrafo de 23 anos, que desenvolve muitos projetos com foco em questões relacionadas aos direitos humanos. “Politicamente, eu me alinho com movimentos indígenas, negros e quilombolas, dos atingidos (por barragens) também. A fotografia é a minha forma de contribuir com isso, pedindo sempre licença para entrar no território de cada um, mas participando como uma atividade coletiva”, ressalta.

Expoente
Francisco Proner tem se destacado como um dos expoentes da nova geração de fotojornalistas brasileiros. Nos últimos anos, seu trabalho tem sido publicado em jornais influentes como o francês Le Monde e o britânico The Guardian, além de ter conquistado espaço no prestigioso Festival Visa pour l’Image, no sul da França, dedicado ao fotojornalismo mundial.

Paralelamente a coberturas como a do processo judicial sobre a tragédia de Mariana, Proner desenvolve um projeto de longo prazo que visa expor situações de violação de direitos humanos em diversos países da América Latina. Esse projeto teve início no Equador e já levou o jovem fotógrafo ao México, Peru e muitas regiões do Brasil, onde focou a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e os efeitos do agronegócio.

“Para mim o mais importante é sempre divulgar as histórias que estou fazendo. Os últimos anos têm sido bons nesse sentido. Acho que existe um espaço que foi ‘cavado’ por muita gente, através de muito trabalho de convencimento, para que histórias latino-americanas existam nestes espaços de festivais, de prêmios e publicações. Fico feliz de poder divulgar essas histórias em espaços que aparecem por aí”, conclui.

As informações são da RFI
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