Com olhar sensível, Salgado Filho eterniza a luta no sudoeste do Paraná
Assentamentos registrados por Salgado viram símbolo da luta camponesa no Sudoeste
Sebastião Salgado acompanhou o início do maior conjunto de assentamentos do Paraná, registrando um marco histórico da luta pela terra. O MST realizou a maior ocupação da história do país, no município de Rio Bonito do Iguaçu, no Sudoeste do Paraná. Ele foi um dos primeiros a atravessar as cercas da fazenda Giacomet Marodin e registrou o exato momento em que a corrente que mantinha a porteira fechada foi rompida por um camponês com a foice erguida. A marcha reuniu cerca de 15 mil pessoas, que caminharam noite adentro por mais de 20 quilômetros em direção à terra improdutiva.
Antes da ocupação, Salgado passou dois dias percorrendo os acampamentos PR-158 e Chopinzinho, onde acompanhou a preparação das mais de 2 mil famílias envolvidas na ação. Suas fotografias eternizaram não apenas os rostos e gestos da luta camponesa, mas a força coletiva da organização social por terra e dignidade. As imagens captadas no sudoeste do Paraná se tornaram símbolo da resistência rural no país.
Poucas horas após a conquista no Paraná, a luta camponesa seria violentamente reprimida em outro canto do Brasil. Em Eldorado do Carajás, no Pará, 21 trabalhadores sem terra foram assassinados por policiais militares. Assim que soube do massacre, Salgado deixou o Paraná e seguiu para o local. De dentro da boleia de um caminhão, registrou os caixões enfileirados com os corpos das vítimas, em uma das mais emblemáticas denúncias visuais da violência no campo.
O conjunto de assentamentos formados a partir da ocupação no sudoeste do Paraná se tornou referência nacional. Para o MST, o trabalho de Sebastião Salgado foi mais do que fotografia: era parte de um projeto de denúncia da violência do latifúndio e da concentração de terras no Brasil. Seu olhar solidário, sensível e comprometido eternizou um marco da história agrária brasileira.